quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Liga Sagres - Porto vs Estoril



Mau, péssimo, terrível jogo do F.C.Porto, onde pouco mais se salvou do que os 3 pontos. Jogo atabalhoado, carregado de péssimas execuções técnicas e de igualmente péssimos comportamentos tácticos, que me deixam um pouco de pé atrás face ao crescimento que pareceu haver no final da pré-temporada/1ª jornada do campeonato.

E para isso, muito contribuiu Lopetegui, que a partir da parte final da época passada me começou a deixar um pouco desanimado, pela insistência em algumas decisões que só na sua cabeça parecem surtir efeito.

Ora, neste jogo, a alteração táctica tão pedida pela massa adepta surgiu; uma inversão do triângulo do meio-campo, deixando Danilo e Imbula com funções de médios de transição, e Brahimi com maior liberdade para jogar entre linhas, ao fim e ao cabo mais próximo dos locais onde pode criar perigo. Devo desde já dizer que, ao contrário do que muitos apregoam, não estou de acordo que a disposição táctica seja o nosso grande problema; o busílis da questão está, sobretudo, nas péssimas dinâmicas colectivas, que emperram o modelo, e na fraca qualidade técnica de alguns dos intervenientes. Se a isso somarmos exibições desastradas de alguns jogadores, e uma incompreensível quebra física geral por volta dos 70 minutos de jogo, e temos tudo para que o jogo corra mal.

Ora, neste 4-2-3-1, o grande problema não foi a disposição das pedras (tal como o 4-3-3 não o havia sido na Madeira), mas sim a forma como se moviam, especialmente sem bola.

Danilo e Imbula, por exemplo, atropelaram-se por diversas vezes durante o jogo (quer em 4-2-3-1, quer em 4-3-3), e a forma como a transição defensiva funcionou para os dois foi absolutamente desastrosa. Obviamente que o inacreditável espaço entre a linha avançada e a linha média não ajudou absolutamente nada. Invariavelmente, a equipa do Estoril trabalhava a bola num dos flancos, e invariavelmente Danilo e Imbula iam na cantiga, aparecendo quase sempre 2x1 no flanco contrário, com a bola a ser confortavelmente conduzida pelo corredor central. E safou-nos o facto do melhor jogador do Estoril em termos técnicos (Bruno César) parecer um texugo, para que não houvesse estragos mais sérios durante os primeiros 60/65 minutos.

Em transição ofensiva, e na saída de bola, sempre um espaço enorme entre o portador e os colegas, que quase sempre procuravam dar linha de passe encostados à linha, aparecendo só Brahimi e, a espaços, Aboubakar, para dar apoio no corredor central. Ora, se a bola caía em Brahimi, por exemplo, este tinha sempre de temporizaaaaaaaaaar, ir retirando adversários da frente e aguardar (em vão) pelo aparecimento dos extremos em ruptura, ou até mesmo dos médios, que pareciam amarrados um ao outro e confinados a 10/15 metros de terreno.

Ok, pode parecer picuínhas estar a fazer este tipo de análise, mas a verdade é que na primeira vez que conseguimos criar um movimento em que a bola caiu no corredor central depois de se fixar um pouco o lado esquerdo da defesa do Estoril, deu golo, e deu um golo fácil. Facílimo! E ao fim e ao cabo, o futebol é muito isso; criar uma vantagem para que quem finaliza tenha 99% de probabilidades de marcar. Ocasionalmente, enfiar um petardo a 40m da baliza (nada contra!), ou esperar pelo milagre dum golo de livre ou, Deus nos livre, de canto, mas sempre que possível deixar alguém na zona central com uma finalização fácil.

Como tal, o único lance de real perigo da primeira parte, e possivelmente do jogo todo, serve precisamente para explicar como deve funcionar qualquer modelo táctico, e traz-nos a verdadeira razão para termos feito as exibições de merda que fizemos nas duas últimas jornadas. Em casa, com o Estoril, que já a temporada tinha iniciado para metade das equipas e nem sabia muito bem quem seria o treinador, concedemos mais jogadas de real perigo do que as que criámos. E isto vai resultar uma ou duas vezes, mas nao resultará muitas mais, acreditem.

Andiemo para les notis (como dizem os italianos)

(+) Positivo


Brahimi - Brahimi não se "agarra" demasiado à bola porque gosta muito de driblar 500 jogadores. Brahimi agarra-se à bola porque o lateral do seu lado (neste jogo, pelo menos) tem a velocidade duma orca paralítica e a aptência ofensiva duma formiga com esclerose; porque os médios estão lá atrás, encostadinhos aos centrais, e porque os dois extremos paraciam a versão Merdas do Rei Midas, tamanha a quantidade de jogadas promissoras que transformaram em cagalhotos. Brahimi é, neste momento (a par de Evandro, ou Rúben Neves que... não jogam) dos poucos jogadores do Porto capaz de receber e rodar sem ter de dar 5 passos para trás. Dos poucos capazes de fixar jogadores e soltar em colegas melhor posicionados. Capaz de jogar sem bola e dar linhas interiores de passe. O único! Nem Danilo, nem Imbula, nem Herrera (nem que nasça 300 vezes), nem André André... Nada! Dantes, ainda havia Óliver. Agora... 

Maxi Pereira - Não, não está aqui porque é muito raçudo e porque corre muito. Tudo isso já sabemos que faz, e faz bem. E não é nhnum portento de técnica, muito menos de táctica. Cumpre, sim, mas também causa calafrios. Mas está na génese do primeiro golo. Porque ousou subir no terreno e, vendo a desmarcação de Brahimi pelo corredor central, meteu-lhe a bola no FILHO DA PUTA DO SÍTIO CERTO. Nem 2 metros à frente, nem 2 metros atrás ou ao lado. Deu golo. 

Osvaldo - Se no jogo anterior poderia ter visto vermelho na primeira acção que protagonizou no jogo, deixando laivos de Quaresmice no ar, desta feita entrou com outra disposição. E, Aboubakar me perdoe, mostrou mais e melhor em 10 minutos do que Aboubakar no resto do jogo. Tudo porque foi capaz de jogar de primeira em duas situações, criando avenidas de espaço para dois colegas (Tello e Herrera). Em 10 minutos, é certo que com o jogo já partido, teve um remate perigoso à meia-volta e esteve nos 3 ou 4 lances que criaram situações de 4x4 que Herrera ou Tello destruíram.


Estoril - Muito bem tacticamente durante o jogo quase todo. Gosto deste tipo de treinador que joga para discutir o jogo em qualquer campo. Foi bom ver uma equipa a jogar algum futebol nesta tarde de Sábado. Pena não terem sido os de azul-e-branco.


(-) Negativo

Herrera - Não é perseguição, acreditem. 4 jogadas de 4x4 perdidas, com péssimas decisões do mexicano. No golo mal anulado, demora uma eternidade a definir e acaba por atirar contra as pernas do defesa. Um bom domínio de bola, um passe simples bem feito... Sei lá, qualquer coisa! Só pedia isto... 

O duplo pivot - Estático, mal posicionado, jogadores a ocupar a mesma posição... Há ali muito trabalho pela frente e, principalmente, é preciso dar asas a Imbula. O médio francês deixa sempre boas indicações, porque recebe, roda e ultrapassa pernas de adversários com uma facilidade incrível. O problema é que depois parece que do banco recebe choques eléctricos por ter ousado criar uma vantagem na zona central e lá sai o passe lateral do costume. Ah, e Danilo, forte, possante, bom moço e tudo... Não consegue fazer um passe curto em que não pareça estar a ter uma crise convulsiva. Graças a Deus, faz poucos passes longos.

Indi na lateral - Sinceramente, não compreendi, e estou um bocado fodido - pardon my french - com esta palhaçada. Indi é central, e poderá ser lateral se todos os laterais esquerdos das equipas A e B falecerem. Mesmo assim, haverá algum nos juniores ou juvenis para fazer o lugar. Já não se usa laterais assim no futebol moderno, muito menos no F.C.Porto, muito menos em casa, muito menos contra o Estoril. Para que veio Ángel? Para que veio Cissokho? Num modelo que pede imenso jogo ofensivo aos laterais, principalmente ao lateral esquerdo, que precisa de dar mais profundidade aproveitando o jogo interior de Brahimi, coloca-se o mais lento, mais defensivo das nossas possibilidades. Atenção, não estou a colocar em causa Indi, mas sim a opção tomada.

Lopetegui - Se ganhássemos jogos pelas ideias de jogo, seria espectacular. Parece-me mesmo que a ideia de jogo de Lopetegui terá coisas fantásticas. E no ano passado, essa ideia de jogo funcionou bem muitas vezes (embora, por vezes, tenha funcionado de forma péssima). Depois de algum crescimento nos jogos de pré-época, sinto que demos dois passos atrás. E passo a explicar. Se Imbula estava tão preso, era porque de cada vez que ousava avançar e não era devidamente compensado por Danilo, levava reprimenda. Porque razão aparecem os extremos constantemente colados à linha, com zero movimentos de ruptura? Porque razão não há mais do que tentativas esporádicas para jogar por dentro, quando quase sempre isso dá golo? São os jogadores que não gostam? Ou será ordem de Lope? Porque razão não jogam os nossos melhores médios, Rúben e Evandro? Porque razão temos dois laterais esquerdos que não foram vendidos ou emprestados, mas que são (ao que parece), piores do que Indi? Porque razão jogamos com um lateral defensivo quando o nosso modelo (seja em 4-2-3-1, seja em 4-3-3, pede laterais ofensivos?

Eu gosto de Lopetegui, gosto que tenha as suas ideias e que tenha trazido uma lufada de ar fresco ao nosso futebol depois dum ano miserável como o de Paulo Fonseca. Mas começo a perder um pouco a paciência com estas pequenas coisas. Pequenas coisas que fazem a diferença. Detalhes que ganham títulos. E foda-se, tenhamos coragem para assumir que somos o principal candidato ao título, sem que isso tenha de fazer parte duma qualquer conspiração dos media para nos pressionar. Pressão? Mas somos Homens ou somos Catraios pá? Que merda é esta!

#tudonossonadadeles #vamosportocaralho #semigual

Tudo muito bonito, tudo espectacular. Mas numa época em que o principal rival está mais fraco, e o outro rival demora algum tempo a começar a carburar, não me interessa andar aqui a falar de #colinhos e de equipas novas, de que é preciso tempo, etc, etc.

As coisas são como são, há que tê-los bem no sítio e que ser competente para ganhar troféus.

Para mim, este ano, é #SEMDESCULPAS.

Lope, é sem desculpas caralho!

Oupa!


9 comentários:

  1. Meu caro,

    Calma! 3 jogos não querem dizer grande coisa, nomeadamente no sistema de jogo de Lopetegui quando:

    - Perdeste o titular da lateral, portanto a tabela com o extremo da primeira para a segunda jornada,

    - Começaste a perder a segunda porque puseste um lateral que ainda não estava no ponto, a jogar.

    - Mostraste que precisavas de um lateral na terceira jornada.

    Note-se que não subscrevo o método de mostrar que não conta com Ángel - e não Cissokho! - para a temporada. Mas a verdade é que os erros foram de Lope. Ele quer um entrosamento Imbula Danilo que ainda não existe.

    Danilo /Herrera talvez, Ruben/Imbula já foi testado na pré época com excelente resultado. Mas o Rúben era mais criativo, o Danilo mais 6. Erros de casting ou de treino? Arouca estará cá para mostrar.

    Calma, daqui a pouco tempo falaremos!

    E ganhamos, carago!

    Abraço

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    1. O tempo encarregar-se-à de mostrar que com Rúben o nosso jogo é totalmente diferente logo a partir do momento de construção. E que a norma tem de ser o miúdo a jogar, ficando as sobras para Danilo (naquela posição).

      Abraçom

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    2. O tempo encarregar-se-à de mostrar que com Rúben o nosso jogo é totalmente diferente logo a partir do momento de construção. E que a norma tem de ser o miúdo a jogar, ficando as sobras para Danilo (naquela posição).

      Abraçom

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  2. «
    #SEMDESCULPAS
    »

    muito bem! vou "adoptar"! ;)

    abr@ço
    Miguel | Tomo III

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  3. O pior do Lopetegui é para mim a escolha de jogadores errados para as posições alteradas. Se é preciso rodar a táctica é preciso perceber que jogadores fazem melhor cada variante de cada posição. Parece-me que há demasiada experimentação. Mas isso só preocupa em afinar para a Champions, que o campeonato vai ser mesmo #semespinhas ;)

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    1. Ora muito obrigado pela ilustre visita. Também é isso, principalmente no que concerne ás posições do meio campo (o que piora quando ensaiamos um 4-2-3-1 ou um 4-4-2 losango), mas também é problema do modelo. Atacarmos a porra da baliza adversária SEMPRE por fora, vai complicar muito a situação. Falta ali gente a aparecer pelo meio, porque é pelo meio que fica mais fácil finalizar. É pena, porque bastava este subtil "pormaior" para ganharmos uma dimensão de jogo muito interessante.

      Abracinho e, de novo, obrigado pela visita!

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